Ingrid Betancourt resgatada em ousada operação militar

Depois de seis anos em cativeiro, acabou o pesadelo para a franco-colombiana ex-candidata a presidente e outros 14 reféns mantidos em poder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

“A libertação foi um sinal de paz para toda a Colômbia”, afirmou Ingrid Betancourt, 46, durante entrevista coletiva realizada em Bogotá, na última quarta (02), depois do Ministro da Defesa colombiano, Juan Manuel Santos, anunciar a sua libertação junto com mais 14 reféns. Com agentes do governo infiltrados no grupo rebelde, foi possível realizar uma operação militar de resgate, classificada por Ingrid como “impecável”. A ex-senadora, seqüestrada em 23 de Fevereiro de 2002, enquanto fazia campanha para as eleições presidenciais da Colômbia, revelou sempre acreditar em ações humanitárias do que em operações militares violentas, mas ressaltou que a operação de resgate foi absolutamente impecável. “Quero agradecer a cada um dos soldados da Colômbia”, elogiou Ingrid.

Quando amanheceu o dia, ainda em cativeiro, Ingrid pediu a Deus que houvesse mais libertações, sem imaginar que seria a dela. Levada para um avião militar, pensava ser mais uma transferência de rotina, quando soube que voava para a liberdade. Os militares enganaram os guerrilheiros com agentes infiltrados, informações, planejamento e logística para evitar derramamento de sangue ou qualquer tipo de violência. Não foi preciso disparar um único tiro. A operação ocorreu numa área de selva em Guaviare, sudoeste da Colômbia. Em Bogotá, Ingrid foi recebida por sua mãe, Yolanda Pulecio.

Filha do ex-senador e ex-embaixador colombiano, Gabriel Betancourt, com a ex-miss Colômbia, Yolanda Pulecio, Ingrid viveu em Paris, onde o pai servia como embaixador da Unesco e estudou Ciências Políticas no Instituto de Estudos Políticos. Desde jovem, ela conviveu com o poeta Pablo Neruda, o escritor Gabriel García Márquez e o pintor Fernando Botero, o que certamente influenciou sua postura política. Em 89, após o assassinato de Luis Carlos Galán, ex-candidato a presidência, por ter uma plataforma política anti-drogas, Ingrid decidiu retornar à Colômbia. Em 98, foi a candidata mais votada para o Senado. Fundou o partido Oxigênio e sempre lutou pelos direitos humanos.

Apesar do sucesso como senadora, a campanha dela para a presidência atravessava um momento crítico em 2002, enquanto a saúde do pai piorava. Ingrid revelou que só manteve a campanha em respeito ao eleitorado. Então, ocorreu o seqüestro. Com o passar dos anos na selva, ela sentiu que aquilo aconteceu por ser algo que deveria acontecer. “Conheci as Farc de perto. Se tivesse que fazer tudo de novo, faria tudo outra vez”, afirmou na coletiva, vestida como uma militar. O que ela trouxe de mais valioso da selva foram as cartas que escreveu para a mãe e sempre guardou na esperança de um dia poder entregar.

Essa foi a notícia que o povo colombiano esperava por muitos anos. Eles festejaram a libertação de Ingrid com buzinadas nos carros. A celebração também ocorreu na Argentina e no Chile. O presidente colombiano, Álvaro Uribe, declarou-se muito feliz ao ser informado do resgate. Diversos líderes mundiais, incluindo Lula, o Papa e George W. Bush, celebraram a libertação da líder. Para o presidente da França, Sarkozy, a liberdade foi um trabalho conjunto de governos. Durante a coletiva, Ingrid agradeceu ao governo colombiano e aos militares. Em francês, ela também agradeceu emocionada ao apoio dado por Nicolas Sarkozy na luta para libertá-la e no suporte aos filhos Melanie e Lorenzo que vivem na França. Ela destacou o apoio fundamental da Rádio Caracol que servia de ponte entre as famílias e os reféns.

Na selva, Ingrid sentia falta de água encanada e luz elétrica. Quando entrou no avião, por um momento nem sabia o que era uma porta. As Farc ficou enfraquecida, desde maio passado, quando morreu Manuel Marulanda, o Tirofijo, fundador do grupo. Isso se refletiu no acampamento dos reféns. “Eu comia pouco. Não havia frutas, nem verduras. Havia pouca variedade. Isso era um sinal dos problemas de logística que o grupo enfrentava”, explicou. Numa das cartas endereçadas a mãe, Ingrid revelou a situação precária. “Estou mal fisicamente. Não consigo me alimentar. Meu apetite está bloqueado. Meus cabelos estão caindo aos montes”. O enfermeiro William Peres cuidou dela na selva. “Atualmente, estou bem, mas estive muito pior. Se estou bem hoje, é graças a ele”, afirma. E quanto ao futuro, Ingrid desabafou, “se alguém me perguntar se quero concorrer a presidência, a resposta é não. Se algum dia voltarei para a política. Só Deus sabe”.


A vida da ex-senadora retratada no documentário produzido pela rede de TV paga, norte-americana HBO, O Sequestro de Ingrid Betancourt (Missing Peace, 2003), encontrou agora um final feliz e uma esperança de paz para toda a América Latina.

Publicado em 3 de julho de 2008, em Cosmopolita e marcado como , , , , , . Adicione o link aos favoritos. Deixe um comentário.

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